terça-feira, 22 de abril de 2008

Autofagia

Hoje vim assumir um defeito. E, ao assumí-lo, como qualquer megalomaníaco do mundo, me acho ainda melhor. Superior. Ao menos sou são o bastante para saber que tudo não passa de um defeito. Tolo defeito. Deve esvaecer-se com o tempo. Com a maturidade.

Aliás, com essa declaração darei combustível a todos os meus críticos. Entrego a eles gasolina e fósforos. Ateiem fogo. Massacrem. Mesmo os grandes são escravos de seus opositores. O que seria dos céus sem o inferno. Do yin sem o yang. Do governo sem oposição.

Pois bem, aí vou eu: assumo que gosto de platéia. Gosto de que me ovacionem. Gosto de ser o centro das atenções. Gosto de elogios. Sou facilmente manipulável por eles. Sou tolo. Idiota. Refém de minha própria empáfia.

Abro assim a sessão "ovos". Atirem. Aos montes. Critiquem. Maltratem. Reforcem que estou certo. Que, em algum momento sentiram isso. Perceberam minha intenção de guardar "aquela" história pro fim. Pra todo mundo ir embora pensando "uau!". Digo "algum momento" por que, mesmo incorrendo neste defeito, o faço de forma inteligente. Sutil. É mais uma maneira de me auto afirmar.

Talvez seja por que, realmente, vivi 50 anos em 28. Passei por muitos episódios. Tenho muitas histórias pra contar. Mas e daí!? Há pessoas que viveram 500 anos em 28. São muito mais interessantes do que eu. Tem muitos causos de mesa da bar. Tem muito mais papo. Muito mais motivo para ser como eu sou. Um bobo. E nem por isso o são. Guardam. Pesam. Medem.

Já eu não. As vezes passo da conta. Na ânsia de aparecer conto e reconto muitas histórias. Não que cite aventuras alheias como minhas. Mas, na verdade, muitas vezes aumento as minhas próprias. As torno homéricas. Épicas. Tenho mesmo talento para narrativa. E isso aumenta ainda mais meu problema. Sou hábil. Mestre em encantar com as palavras.

Pois bem, amigos. Este é o defeito que mais me incomoda. Tenho que superá-lo.

Sou patético. Escrevo aqui com tamanha contundência esperando bater recorde de "comments". Parti para autofagia na intenção de locupletar-me. De alimentar meu problema. Sou patético...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Na Ingletarra neva. As Vezes.

Nenhuma das minhas histórias sobre o Tour de Force na Europa foi contada no Waru. Acredito que ainda estou receoso de que os meus amigos aziagos se sintam atraídos a focalizar seu azar sobre mim, novamente. Estou dando tempo ao tempo. Deixando o assunto descansar.

Ocorre que hoje um grande amigo meu me enviou um email interessante. O email travava da primavera Londrina. Diferentemente do que se imagina, a chegada desta primavera trouxe neve por aquelas paragens. É notório que o clima inglês não reserva muita neve. É mais chegado aos ventos, à chuva, aos dias carregados, plúmbeos e com muita neblina. Alguma coisa no mar do norte, no canal da mancha, espanta a formação dos floquinhos. Então eles descem como água mesmo. Aos cântaros. Mas, para a surpresa geral, nessa primavera caiu neve. Guardem esta informação: Neve. Em Londres.

Perfeito. Agora vamos de volta no tempo, até o dia 23/12/2007. Eu estava molhado feito um pato na chuva, no Porto de Calais, na França. É de lá que saem os ferrys que atravessam o canal da mancha e nos levam para a cidade portuária de Dover, já na Inglaterra. Digamos que é uma opção pra quem tem cagaço de viajar pelo Eurotúnel. Aliás, saibam, o Eurotúnel não é um tubo que fica deitado no fundo do mar, diretamente na água. Não. Aquela porcaria é escavada algumas dezenas de metros abaixo do solo marítimo. É mais sinistro do que se possa imaginar.

Pois bem, véspera de Natal, estávamos lá esperando na fila da imigração. De alguns anos pra cá o controle de passaportes para quem pretende entrar em solo Inglês é feito já na França. Assim, o imundo visitante, caso tenha seu visto negado, nem chega a pisar na sagrada Inglaterra. Regras do Bruce - The Lion.

E assim fomos, naquele dia em que a humidade do ar estava tão grande que não precisava nem mesmo chover para que o sujeito se sentisse ensopado. Além desse pequeno desconforto, eu também me preocupava com as gaivotas que sobrevoavam insessantemente a nossa fila indiana de pobres coitados turistas. Olhando pro chão eu percebia que elas eram todas desarranjadas. O peixe de lá não devia fazer bem pro estômago delas. E, aliás, elas não cagam. Elas borram o chão, com uma cagada que mais parece tinta branca. Meu medo era levar um "tiro" de uma dessas bichas. Ainda mais eu, que nesta altura da viagem tinha somente um casaco "du bão".

Entramos no local aonde se faz a breve entrevista. A hora da verdade. A fila foi andando, andando, e, como havia uns 40 turistas barulhentos ocupando todos os guichês abertos, um velho que me pareceu supervisor daquela repartição resolveu abrir mais um guichê, pra desafogar. Justo na minha vez. O velho tinha cara de poucos amigos. Mais parecia um entalhe de madeira, com olhos cruéis. Tipo do sujeito que nunca se casou, odeia criança e tem como "pessoa" mais próxima o seu cão. Pois bem, esse desgraçado me massacrou. Perguntou de tudo, sobre tudo. Só faltou querer saber a cor da minha cueca. Pergunta que, aliás, percebi estar na ponta da sua língua por vários momentos. Devia ser um pervertido. A última pergunta que ele fez foi - em inglês, é claro: "o que traz você a Inglaterra, no inverno?". Eu, já abatido depois de quase 15 minutos de interrogatório, alí, em pé, no balcão, respondi sem pensar: "Estou numa excursão por 12 países. A Inglaterra é só mais um. Acho que vim ver neve". Não sei qual a parte da frase ele detestou mais. Mas o fato é que o algoz respondeu tão friamente quanto o vento que soprava lá fora: "In England does NOT snow". E Pá! bateu o carimbo no meu passaporte.

Eu, sem saber se era "accepted" ou "rejected" fiquei meio estatelado, ainda com o barulho do "Pá" ecoando na cabeça. E só andei por que minha mãe me puxou, dizendo "vem logo antes que ele mude de ideia".

Pois bem, velho idiota, essa é pra você: IT DOES SNOW IN ENGLAND!



Taí a foto que o Marcelinho me mandou hoje pra comprovar. Pegue seu cachorro, sua dentadura, seu chá das cinco e enfie aonde o sol não bate. E não me apurrinhe mais por seis meses, que é o tempo que o meu "accepted" vale!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Me, Subhuman

Eu sei. Eu sei. Eu sei. Tenho sido repetitivo. É de propósito. Vou falar - dessa vez brevemente - sobre o assunto. Ocorre que nao consigo dormir tranquilo perante estas constatações. O texto abaixo foi retirado do Update or Die, ipsis literis. Entre parenteses e com ** são meus comentários de júbilo e espanto. Leiam. Antes que os Anti-Microsoftmaníacos se manifestem, um aviso. As previsões nao foram feitas PELA Microsfost, mas sim por vários especialistas contratados por ela.

"Acaba de ficar pronto o relatório do Microsoft Research sobre como será a interação entre computadores e humanos no ano 2020. Para baixar clique aqui. Algumas conclusões:

- Estamos na Era da Mobilidade agora, mas estaremos na Era da Ubiquidade (Onipresença) em 2020 com milhares de computadores por usuário.

- Silicone e material biológico estarão juntos de uma maneira diferente, possibilitando novas formas de inputs e outputs implantáveis em nossos corpos.

- Seremos cada vez mais capazes de usar aparelhos móveis para interagir com objetos no mundo real, esses aparelhos serão como extensões de nossas mãos. (**Dá-lhe velho MacLuhan! Três vivas pra ele!**)

- Robôs serão máquinas autônomas com capacidade de aprender. (** Eu ouvi Asimov?!**)

- Criaremos ambientes digitais mais customizaveis e personalizados. (**lembram da febre de Second Life? E do Google refazendo o mundo através das fotos postadas pelo Picasa, Flickr, Google Earth, etc.?**)

- A visão de ter um computador para cada criança no mundo será mais real. (**Cada criança será um computador...**)

- Sobrarão poucas pessoas no mundo sem acesso a telefones móveis. (**fones móveis através de implantes cerebrais já sao possíveis. Em breve você poderá escolher os assessórios do seu bebê. Feito carro zero...**)"


domingo, 6 de abril de 2008

Eu não acho nada. Só perco.

Hoje não pus a cara na rua. Acordei amassado e assim fiquei por parte do dia. Enfurnado sob o edredon, apenas com a luminária que garantia um pequeno foco de luz ao meu casulo. Li revistas, jornais, livros. Lá pela 17:30h resolvi sair da cama pra tomar um bom banho, fazer a barba, olhar a janela. Dia modorrento, sem graça, sem Caren.

Enquanto lia, minha mente vagava. Folheando as publicações dominicais, peguei-me questionando algo. Existem tantas pessoas nesse mundo que nos parecem inteligentes, donas de um conhecimento gargantuesco. São bastiões da opinião sensata. Referências em economia, relações internacionais, física, geopolítica, ou outros assuntos que dão calafrios na espinha. Sempre tão seguros de suas opiniões, a ponto de publicá-las em veículos que chegarão a milhões de pessoas. Ou seja, colocam à prova do escrutínio e da investigação de milhões suas versões dos fatos, suas opiniões, seus achismos. Que culhões, com o perdão da palavra!

Senti-me diminuído depois de vagar por estas questões. São pessoas que simplesmente parecem saber tudo sobre tudo. Encerram na sua cachola todo o conhecimento da humanidade. E foi nesse momento que fiquei tenso. Como conseguiram tanto saber? Através dos estudos, da leitura, decerto. Mas, pombas, quanto tempo dedicam a lapidar seu intelecto? Quanto tempo por dia? Quantos livros por mês? Quantas aulas, palestras, ensaios, peças de teatro, pré-estreias de filmes? Quanto tempo é investido em cultura? Eu não tenho esse tempo todo! Seriam todos eles dandis, com tempo de sobra? Ou personagens de Machado de Assis, que vivem de renda. Quais as CNTPs desse povo?

Todos têm opinião sobre "Gerra e Paz", "O Velho e o Mar", leram Sun Tsu de trás pra frente, "O Príncipe" então nem se fala. Viram todos os filmes de Felini e são capazes de apontar suas cenas preferidas. Conhecem ópera e samba-enredo. Tem opinião sobre culinária francesa e conhecem as praias da Côte D'Azur. Que diabos!

Enquanto isso o meu domingo só tem 24 horas. Minha semana 7 dias e o mês mais longo 31. Os anos passam cada vez mais rápido e os livros que quero ler permanecem na estante.

E, eu, frente a tantas questões e dúvidas, continuo não achando nada... só perdendo.