segunda-feira, 24 de março de 2008

O pato, o terno e a gravata

Há tempos que tenho sido um blogger desnaturado. Não tenho nutrido o Waru de suas bobagens constantes. Mas isso tem um motivo. Quem trabalha não tem tempo pra escrever baboseiras. Notem, eu disse escrever. Porque pensar, ahhhh, quem trabalha pensa muito mais baboseira do que quem não labuta. O problema é o tempo pra colocar isso no papel. Ou no computador, como queiram.

A percepção desse fato é clara. Durante meu período sabático - ou quase sabático, pois, afinal eu fingia que estudava o dia todo – minha produção no Waru era vasta. Como acompanhava todos os noticiários, em diversas mídias, o combustível era farto. Atualmente, minha única fonte de baboseira diária é ouvir a BandNews, no longo trajeto entre Niterói e a Barra da Tijuca – O Universo número 2. Ao menos vou bem acompanhado, junto ao Boechat, Megali e José Simão. Time impagável.

Agora, que faço esta viagem intergaláctica diariamente e passo o dia pegando no batente, o Waru quase virou cinzas.

Mas eu sou mesmo cheio de rodeios. Há três parágrafos estou aqui dando voltas. Vim aqui para dizer que terno e gravata é o que há. Principalmente para alguém como eu, cujo ditado de vida é “poleiro de pato é no chão”.

Explico: tem gente que tem uma certa aura nobre. Estirpe, eu diria. Uma pose natural que inspira respeito. Parece que veio de uma casta nobre, do topo da pirâmide. Não é plebeu. É nobre. E não está nem no fato de ter um monte de sobrenome. O meu nome é quilométrico e nem por isso desfruto de tal aura. Por outro lado, tem gente que é “simplesinha”. É normal. Se mistura facilmente na multidão. É blasé sem querer ser. Esse sou eu. E esses são os patos. Pato não tem poleiro. Pato não canta, não cacareja. Pato não se destaca. Pato é pato. E poleiro de pato, meu amigo, é na chon!

Só que o bicho homem é bicho malandro. E sabe como suprir suas carências. E, aliás, é isso que o difere do resto dos animais. Dos patos, por exemplo. O bicho homem, quando não tem essa aura de nobreza natural supre essa carência vestindo terno e gravata, ora! Basta envergar um uniforme de pingüim que o sujeito vira qualquer coisa imponente. Juiz, presidente, gerente, diretor, superintendente, CEO, qualquer nome de posição que emane importância. Tirando, é claro, os seguranças de porta de boite. Mas esses usam aquelas gravatas falsas, com elástico no pescoço. Então não vale. Quem dá nó em gravata é que tem direito a ser promovido a nobre.

Um dos meus amigos mais inteligentes – e que portanto, nunca leu o Waru – diz uma frase muito cheia de razão: o terno é a armadura do homem moderno. É com ele que o homem combate o dia a dia. Mas que espetáculo de colocação. Ainda mais vindo dele. Um advogado que enfrenta – com muita coragem e de terno e gravata – o sol escaldante do Centro do Rio pra ir ao Fórum. Isso é que é guerra!

Pois bem, recentemente, eu passei a usar tal artifício para subir no poleiro. Entrei na beca. Vesti o terno. E não quero mais saber de tirar. Virei nobre. Virei gente. Muito curiosa a reação das pessoas. Visualizem: entrei numa empresa nova, em que ninguém me conhece. Fui orientado a pintar por lá todos os dias de terno e gravata. Esse é o dress code vigente. Ganhei cadeira de espaldar alto, com braços, e cheia de manivelas por debaixo pro sujeito achar seu conforto. Pronto, foi o suficiente pra ninguém me olhar no olho. Ninguém falar alto na minha presença. Pro grupinho em torno da máquina de café parar de falar e interromper a piada no meio quando eu chego. Pra que os outros sujeitos de terno me cumprimentem, sem nunca terem me visto antes. Impressionante.

Não que eu esteja gostando dessa situação. Não que eu tenha esse desdém no olhar, próprio dos homens de terno. Mas que é engraçado perceber que qualquer pato pode virar cisne, é.
Meu único medo é que, com o passar do tempo, minhas penas comecem a aparecer por debaixo dos botões. Percebam que eu não fico confortável dentro da armadura. Que eu não tenho essa aura, essa estirpe. Que eu sou mesmo é pato! E que poleiro de pato é no chão!

5 comentários:

Unknown disse...

Ótimo texto, Dr. Frederico!

A propósito, todo terno traz um "Dr." de brinde.

Bjos!

Fred disse...

Foi eleita a minha leitora mais persistente. Honras ao mérito!
beijo!

Anônimo disse...

Eu já fiquei ofendida quando li "Um dos meus amigos mais inteligentes – e que portanto, nunca leu o Waru ", venço meu sentimento mesquinho e venho comentar. Aí vejo sua puxação de saco pra Ana Riuta. Você veste terno? Meu amigo, ela vai vestir uma beca de doutora , já, já, e eu sei muito bem que é por isso esse súbito amor seu.

hahahaha

E esse negócio de terno é verdade. Todas as mulheres têm fraco por um homem vestindo um belo terno, não dá pra não olhar, pra não admirar. Salvo os seguranças de boite, que barram você se não é V.I.P (não que isso tenha acontecido comigo, mas eu já escutei estórias terríveis), as mulheres sentem atração por homens bens vestidos assm. Principalmente os altos. Naad com um homem imenso num terno. Jesus, perdi até o sono.
De qualquer forma, fico feliz por você, trabalhando, de terno, com cadeira confortável e acho mais legal ainda a viagem ao mundo paralelo Barra da Tijuca.

Sensacional, maravilha.


Espero que poste ao menos uma vez a semana, já é suficiente.


Sorte, garotão!

Bjos!

Fred disse...

First of all, Ana Rita usará Toga de Magistrada. "Beca de doutora" veste o cirurgião espiritual - o Dr. Fritz. Mais respeito com a minha Leitora Número 1.
Aliás, senti um tremendo despeito por eu ter outorgado este título a ela. Mas vá lá, vc também ganha a medalha de honra. É minha mais frequente crítica.
Em segundo lugar, eu nao sou alto, como vc bem sabe. Logo, dá de volta essa medalha pra cá!
Por fim, nao se aflija com a inteligência de quem visita o Waru. Nem sempre inteligencia e bom gosto andam de maos dadas.
Beijo!

Pablo disse...

Nem sempre inteligencia e bom gosto andam de maos dadas
Esse, obviamente, não é o meu caso, apesar de vir a este pardieiro com frequência!rs

Visualizem: entrei numa empresa nova, em que ninguém me conhece. (...)Ganhei cadeira de espaldar alto, com braços, e cheia de manivelas por debaixo pro sujeito achar seu conforto. Pronto, foi o suficiente pra ninguém me olhar no olho. Ninguém falar alto na minha presença. Pro grupinho em torno da máquina de café parar de falar e interromper a piada no meio quando eu chego. Pra que os outros sujeitos de terno me cumprimentem, sem nunca terem me visto antes.
É meu maior sonho atual - principalmente a parte do ninguém me conhecer.

Thaís, é ciumeeeeeeeenta que dói.rs

Excelente post, meu camarada.

ABRAÇO