terça-feira, 31 de julho de 2007

Room Mate

Eu devia ser um dos personagens da série ‘Heroes’. Tenho uma capacidade muito curiosa. Digamos, um magnetismo sobrenatural. E ele se manifesta da seguinte maneira: eu atraio pessoas estranhas. Muito estranhas. Dessa maneira, meu circulo de amizade é absolutamente heterogêneo. Aliás, em uma coisa eles são iguais: são todos loucos. Em maior ou menor grau.

Muito bem, estava eu lembrando de um sujeito, então amigo meu, que foi morar numa cidade do interior de Santa Catarina. Isso há muitos anos atrás. Chegando lá ele alugou um modesto apartamento. Como a grana era muito curta, o sujeito colocou um anuncio no jornal local, oferecendo o ap para possíveis, digamos, room mates. Logo surgiu um interessado. Estudante que havia vindo de uma cidade ainda mais do interior. Pinta de hippie maconheiro, boina de lã com as cores da Jamaica na cabeça, violão debaixo do braço. Como nem todos os loucos são petistas e bichos-grilo – e este tal meu amigo é o justo contrário – fascista, racista, radical, enfim, gaúcho – os dois não se enamoraram muito. Contudo, como precisava rachar as despesas com alguém, não houve jeito. Meu amigo aceitou a cruza de Raulzito com Bob Marley em seu ap. Suas ultimas palavras foram ‘muito bem, amanha você já pode trazer as suas coisas pra cá. Tu ficas com a sala e eu com o quarto’.

Dito e feito. No dia seguinte, meu amigo chega cedo em casa. Duro na cana da noite anterior. A havia passado fora, bebendo ao feito de ter, rapidamente, arrumado um room mate. Ao abrir a porta, a surpresa. Uma barraca de camping surrada, modelo tendinha, estava fincada até o talo por cravos enfiados no sinteco da sala. Hahaha. Impossível eu não me abrir de tanto rir ao lembrar dele contando a cena. Incrédulo até hoje de situação tão sui generis.

‘As coisas’ do seu room mate se resumiam a esta barraca de camping, o banjo, um colchonete mofado, meia dúzia de incensos fedorentos e livros comunistas. Meu amigo, um bom sujeito apesar dos predicados que o dei acima, aguentou alguns meses o picareta. Um dia não deu mais e o colocou pra fora. No entanto, o que o marcou no episódio foi mesmo a tendinha.

Até hoje brada de raiva: ‘Uma tendinha! Pra uma pessoa! Nem pra ser um iglu!’

domingo, 29 de julho de 2007

Xanadu

Dias de chuva e frio no Rio de Janeiro. Dias de namorada aqui em casa. Somadas essas variáveis, resultado da equação: dias de muito filme. Seja cinema, seja no DVD, vimos filme pra dedéu.

Assistimos de tudo. Entre blockbusters bobocas (que, geralmente muito me agradam) como ‘O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado’ e ‘Harry Potter e A Ordem da Fênix’, filminhos água com açúcar como ‘Somos Marshall’, ‘Elza e Fred’, críticas ácidas (e engraçadíssimas) como ‘Borat’, semi-documentários como ‘Murderball’ e, por fim, ultrajes totais como ‘O Segredo’. Ficaram de fora do meu ímpeto blockbuster boboca ‘Transformers’ e ‘Piratas do Caribe 3’. Pra esses a muié não deu o braço a torcer. Faltou Shrek 3 também, pois só achávamos versões dubladas nos cinemas. Não dá. Enfim, o ponto altíssimo, sem dúvida, foi ‘Somos Marshall’. Vejam. Bem na linha ‘Duelo de Titãs’.

Muito bem, cabe uma revoltadíssima crítica. Mas que merda de porcaria é esse tal de ‘O Segredo’. Um total ultraje! Um soco na inteligência de uma ameba, quem dirá na nossa bípede intelectualidade! Meu Deus! Que revolta. Não bastasse, estava eu agora mesmo devorando ‘Veja’, ritual de todos os domingos. Dei uma olhada na lista dos livros mais vendidos e segue no topo dos Auto-Ajuda ‘O Segredo’. Olha aqui, eu não li esta merda e não pretendo nem por as mãos nessa porcaria, mas vi a merda do filme (por indicação...). Impressionante o que divulgação e material de PDV são capazes de fazer hoje em dia... Entre em uma livraria e você será abalroado por uma pilha de ‘O Segredo’ antes que se de conta.

Percebi - aliás, reforcei - a constatação de que o negócio editorial hoje é lançar livros-parasita. Não bastassem os milhares de parasitas lançados após O Código da Vinci (desvendando o C da V; muito além do C da V; a verdade por trás de o C da V, etc, etc, etc.), O Segredo criou o mesmo séqüito. Na mesma lista de mais vendidos de Veja estão: ‘A Lei da Atração’, ‘A Lei Universal da Atração’ e ‘Muito Além do Segredo’. Hahaha, é cômico o paladar literário do brasileiro. Oxiurus são oxiurus.

Mas, na lista, achei uma boa notícia. Após quase um ano pregando, quase sozinho, a maravilha é que um tal livro espanhol chamado ‘A Sombra do Vento’ (que também me foi indicado por alguém que prezo muito) fiquei feliz em vê-lo na lista dos Ficção mais vendidos. Sexto lugar. Bem, ainda atrás da boy-band da moda – os livros que falam de Cabul...
(Chegaremos lá Zafón! O domínio árabe sobre a Espanha durou séculos, mas caiu. Esse domínio também cairá.)

O Pan está acabando, as caixas pretas disseram (até agora) que a falha foi do piloto, Renan Calheiros está comendo pizza com o Brasil e a Caren foi embora hoje. Durante 15 dias achei Xanadu e por lá fiquei. Hoje peguei uma trilha diferente e me perdi de Xanadu. A loirinha se foi pro sul (de avião, ui!). Mas tudo bem, já chegou e já ligou. Alívio. Mês que vem acho Xanadu novamente.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Carlos Silva

Sexta feira passada - dia 20/07 - saímos pra tomar chopp. Como de costume. Fomos ao 'Sao Nunca', bar que eu detesto, mas que, por ficar a pé de casa, sempre estamos por lá bebericando.

Era uma noite agradável e eu, Caren e Bolinha caminhávamos até o bar, aproveitando a brisa da praia. Foi quando passamos por um ponto de onibus, aonde, sozinha, no escurinho, descansava uma carteira abandonada. Foi Caren quem a viu e, com muita discriçao me apontou. Coloquei-a no bolso e seguimos com cara de que nada havia ocorrido. O ponto estava vazio e, muito provavelmente, o dono da carteira havia tomado o onibus há menos de um minuto. Afinal, malandro tem olho clinico pra oportunidade e a carteira nao iria ficar alí por muito tempo. Era fato recente. Ou, pegadinha do Faustao.

Em menos de um minuto chegamos ao bar, sentamos, pedimos chopp (antes de mais nada, é claro), cumprimentamos os presentes e aí entao, de copo na mao, procedemos ao relato do fato. 'Ta todo mundo com suas carteiras aí?'; 'Alguém perdeu a carteira?' (só pra fazer um mistério). Bem, rufaram os tambores e tirei a carteira do bolso. Nunca, jamais, havia passado pela nossa cabeça de nos aproveitarmos da situaçao. De surrupiar o dinheiro e entregar a carteira à polícia ou coisa que o valha. Na verdade, nossa única intençao era devolve-la, intacta, ao desatento e azarado dono. Caren sugeriu deixarmos na cabine da polícia que existe na praia. Nao. Bolinha disse para deixarmos na caixa de correio. Nao. Nenhuma me pareceu confiável. Entao, meio sem saber o que fazer, resolvi, pela primeira vez, abrir a carteira.

Era uma carteira de couro. Bonita, até. Marrom escuro. Nova. Tamanho ideal. Me deu uma invejazinha do dono, pois eu (e Caren) procuro um modelo assim pra mim há tempos. Enfim, abri. De cara a identidade: Carlos Silva. 50 e poucos anos, negro, bigodao, olhos simpáticos. O que me chamou imediata atençao foi a filiaçao: Celina Silva, apenas. Carlos Silva nao tinha pai declarado. Carlos Silva era um trabalhador. Humilde. Igual a milhoes outros Carlos Silva nesse imenso Brasil. Outros aspectos atrairam minha atençao. Cartao de orelhao 'Oi'. Cartao 'Fininvest'. Nao abri a parte do dinheiro - nem mesmo me interessava o quanto havia alí. Mas, no manusear, vi um dolarzinho. O clássico dolar da sorte. Carlos Silva, assim como eu, também tinha um dolarzinho da sorte na carteira. Enquanto meu pensamento (muito pouco normal) viajava imaginando quem seria Carlos Silva, como era sua vida - que me parecia tao distante e diferente da minha, as pessoas ao meu redor berravam 'Procura um numero de celular', 'Ve se tem algum telefone', 'Quanto tem de grana?', 'U-hu, vamos beber por conta do Carlos Silva'. Etc.

De fato havia um numero de celular. Numa das repartiçoes da carteira tinha, anotado numa tirinha de papel (como aquelas de biscoito da sorte do China in Box), um numero de celular. O primeiro impulso era sacar o meu celular e bater um fio pro Carlitos (que, nesse momento, já era amigo íntimo meu). Mas a voz da razao falou mais alto e eu lembrei que estávamos no Brasil. Eu nada sabia sobre Carlos Silva e, talvez, nao fosse uma boa ele ter o numero do meu celular. Aí resolvi pedir à casa o telefone fixo. Chamei o garçom e pedi o telefone do 'Sao Nunca'. Expliquei a situaçao e ele ligou. Ouvi de canto ele dizer a Carlos Silva que sua carteira tinha sido encontrada e que ele poderia ir até lá pegá-la. A maladragem nao demorou a surgir. O graçom me pediu a carteira dizendo que ele mesmo entregaria a Carlos Silva. Nao. Nao topei. Eu era o guardiao dos trocados de Carlitos. Que Carlos Silva viesse até nossa mesa pegá-la. Isso feito, voltamos a beber. E muito.

Uma hora depois (e uns 5 chopps no meio tempo) tres garçons aboradaram e mesa. Junto a eles Carlos Silva. Negro, bonachao, bigodao, chapéu de panamá na cabeça e pandeiro debaixo do sovaco. Um boemio! Carlos Silva estava em extase. Meio anestesiado. Talvez pela incredulidade de ter ido do inferno ao céu. Numa hora tinha perdido tudo. Carteira, documentos, dinheiro. Na outra, os havia recuperado intactos. Qualquer um ficaria meio paspalho. Carlos Silva me olhou com os olhos apertados, olhou pra carteira em minhas maos e balbuciou algumas palavras que eu nao entendi. Entreguei a carteira a ele e ele me deu um abraço forte, agradecendo repetidamente. Seu segundo impulso foi abrir a carteira e me oferecer uma 'recompensa'. 'De jeito nenhum. Nao precisa. O que é isso'. Carlos Silva me agraeceu mais umas 47 vezes e partiu. Com sua roupa de pandeirista da Viradouro. Antes, palavras de 'tudo de bom a voce. Felicidades'. Ao qual respondemos: 'pra todos nós'.

Tornamos a beber. Dessa vez, à Carlos Silva.
Enfim, uma liçao. Estamos nessa vida para ajudarmos uns aos outros. É isso.

RUSH - Limelight
(...)
All the worlds indeed a stage
And we are merely players
Performers and portrayers
Each anothers audience
Outside the gilded cage
(...)

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Cançao do Exílio à CGH

Me ocorreu agora. Após Gonçalves Dias:

'Minha Terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aeronaves que aqui decolam,
Talvez nao pousem acolá.'

Roleta Russa à Brasileira

Quantas vezes eu fiz AQUELE pouso? 10, 20, talvez mais...

Morei 2 anos e meio em Porto Alegre. Vinha com muita frequência ao Rio. Quase a absoluta totalidade dos voos POA-GIG tem escala em CGH. Quase todos. Se eu levar em consideração o fato de que os mais baratos sempre tem escala, e eu sempre voo os mais baratos, afirmo: fiz aquele pouso em torno de duas dúzias de vezes na vida.
Eu podia ter morrido por duas dúzias de vezes. Uma roleta russa.
Minha namorada fez este pouso de sábado para domingo a noite, ao vir de POA pro Rio. Com escala em SP, óbvio.
4 dias antes, o mesmo pouso. O mesmo risco.

A impressão que tenho é que cada vez em que ouço 'portas em automático' é como se um arma fosse apontada para minha cabeça. Cada vez em que o serviço de bordo começa a ser servido, o tambor do revolver fosse girado. Cada vez em que ouço 'estamos iniciando procedimento de pouso' o gatilho fosse apertado. E daí pra frente só poder contar com a sorte de não ter sido a cavidade do tambor ocupada pela bala mortífera.
O que houve com o Brasil? O que houve com a Responsabilidade? O que houve com os Valores? O que houve com as Pessoas? Será que seguiremos nos comportando como Oxiurus?
Meus pêsames mais sinceros aos parentes das vítimas. Estou de LUTO.

OBS
: Será que esta tragédia vai colocar panos quentes no escândalo Renan Calheiros. Que, por sinal, já esta esfriando. (Já pegou a sua senha pra pizzaria?)

sábado, 14 de julho de 2007

"Every pleasure always hold an equal share of pain"

Pode parecer estúpido, mas essa bela frase (ao menos pra mim) faz parte da letra da música "Castles in the Air", do Hoodoo Gurus, uma excelente banda de surf music australiana.
Bem... e aí? E ai que, segundo esta filosofia, todo passo na vida tem seus ónus e seus bónus. E é disso que vou discorrer.

Eu sempre fui um cara que segue, com muito otimismo, em frente. Incondicionalmente. E essa postura costuma trazer mudanças com muita rapidez. Assim sendo, aprendi a ser absolutamente adaptável. E, nessa matéria, passei com louvor. Entretanto, ao passo que me adapto facilmente às mudanças e sou muito desapegado à materialidade, o outro lado da moeda também é muito forte. Sou extremamente saudosista. É como se eu nunca hesitasse em mover adiante, mas o preço que pago por isso é ter de viver remoendo memórias. São apenas 27 anos, mas que parecem 54, de tanto revive-los dentro da caixola.

As vezes me pego por horas perdido em pensamentos distantes, lembrando de tempos passados. Não que eu os deseje de volta, mas sim pelo prazer de remontar alguns momentos muito especiais. Talvez na ânsia de fixá-los na memória, pois, afinal de contas, tudo tem acontecido numa velocidade tão acachapante que o presente vira passado num piscar de olhos. Assim, acredito que, revivendo mentalmente, conseguirei fixar cada momento em seu lugar, com seu devido valor e prazer. Não os perdendo nesse caudaloso rio da vida.

Pois bem, isso tudo é para dizer que, não tem um mês que saí do Rio Grande do Sul e to com uma saudade da porra de uma série de coisas. E de pessoas.

Elenco-os:
Saudade de "Xis". Sim, xis, um sanduíche enorme que só tem lá. Come-se de garfo e faca. Sinto falta do Xis do Cavanha's, e, principalmente do Santa Fé. Sinto falta de caminhar meia quadra e ir ao Zaffari, aonde o atendimento era um primor, e comprar uma dúzia de Eisenbahn Dunkel pra beber solito nas noites de dia de semana. Sinto falta da Panvel, farmácia cara pra burro mas que, igual ao Zaffari, tinha um atendimento especial. Sinto falta de jogar paddle com os 'guris', que de guris só tinham o espírito. Sinto saudade do Bar do Beto, aonde íamos beber e falar bobagens todas as terças após o paddle. Sinto falta do John Bull, do Cherry Blues Pub, do Abbey Road, do Dublin, do Dohmba, do Joy Division, das festas Balonê, do Bar do David. Saudades de comer aquele churrasco maravilhoso da Porto Alegrense, ou da Komka, que parecia um almoço medieval, com os espetos oscilando na sua frente e o sangue pingando. Saudades de almoçar na Zona Sul, seja do Dado Pub (hoje Pubway) ou no Macrhy com os grandes amigos que lá fiz. Saudade de almoçar no Atelier das Massas aos sábados no intervalo das aulas da Pós. Saudade de pegar o carro e percorrer horas a fio estradas cujo visual deixa todos boquiabertos. Pela Serra Gaúcha, de ir a Gramado e a Nova Petrópolis, e, antes de pegar no batente, tomar um cafézinho bem quentinho, logo cedo, a 5 graus celcius na rua. Saudade dos dias ensolarados, mas com a temperatura lá em baixo, em que eu percorria as curvas da serra olhando para aqueles montes lindos. Saudade da fumacinha que saía da boca. Saudade também do inverno na praia, em que não se via vivalma na estrada, tudo era cinza, mas minha alma cantava enquanto eu dirigia ouvindo musica alta. Saudade do dia em que descobri que o ar-condicionado do carro também servia pra esquentar e, assim, minhas viagens passaram a ser mais confortáveis. Saudade de ir a Santa Cruz e almoçar na Gruta dos Índios, ou ir a Caxias do Sul e me esbaldar em comidas maravilhosas, com a excelente companhia de grandes amigos. Saudade de tomar aquele chopp gelado num bistro ao lado do Posto Demari, olhando a tarde acabar. Sinto falta de chamar dinheiro de 'pila', de ver as pessoas desabrocharem com a chegada do verão, de perceber a migração dos gaúchos para o litoral nessa época do ano. Sinto falta de observar, atónito, a gana (quase irracional) com que os gremistas defendiam o grémio e os colorados enalteciam o Inter. Saudade de ficar sozinho nos hotéis a noite, sentindo saudades. Saudade da Scissor's Maniac, de Nosefather, de F.T.Z., de The Compressed, do Cabreira Maos de Lady, Vladimir Catatau, Elias Zé Colmeia, Reginho mal-humor, do Titica, do Pedro Bainha, do Vinibala e de tantos outros. Saudades das trocas de mensagens eternas no celular, madrugada a dentro. Saudades até mesmo do chimarrao (pasmem!), que me custou uma multa de transito. Saudade do cachorro-quente do Rosário, de sagú. Sinto falta de caminhar bêbado até o numero 209 (meu apto.) ao longo de um corredor quilométrico e escuro. Saudade do Natal Luz, saudade de surfar em Cidreira, na Salinésia. Saudade de estar próximo a Floripa. Saudade de morar sozinho. Saudade da noite em que eu, Scissor's Maniac e F.T.Z. nos empedramos lá em casa e caímos capotados. Saudades dos jogos da Copa na casa do Castilho, em que bebíamos muitos litros de cerveja alema. Saudade de esquiar no Guaíba com o Pedro Bainha. Das trapalhadas dele. Das brincadeiras bobocas do Vinibala. Dos papos com Nosefather. Da companhia de pessoas especiais. Saudade dos amigos que lá deixei. Todos eles.

Mas, 'navegar é preciso, viver não é preciso'. Vamos em frente. Sempre.
Trago tudo isso na memória e no coração. E, sempre, reviverei estes momentos.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A Tocha do Pan

A Tocha dos Jogos Panamericanos está a caminho da cidade do Rio de Janeiro. Hoje pela manha ela estava na minha amada Niterói. Pois vejam só, a Tocha do Pan.

Por acaso do destino estava eu no centro de Niterói, na hora do almoço, justamente no momento em que A Tocha por lá passou, vinda de São Francisco (não nos EUA, em Niterói mesmo). A confusão que vi me levou a um raciocínio sem-vergonha. Bem na linha oxiurus.

Várias pessoas importantes levaram A Tocha. Atletas, personalidades e lendas vivas do esporte. Mas quem levou Atocha mesmo foi o povo do Rio. E uma Atochada da boa. No momento em que A Tocha atravessava a Baía de Guanabara, todo o efetivo policial da cidade estava na Praça das Barcas. Assim sendo, todos os outros meandros da cidade estavam entregues a bandidagem. E o carioca levando atochada.

As obras do Pan foram claramente superfaturadas e rezemos para que fique tudo prontinho até amanha. Se não ficar, mais uma atochada. Vergonha Panamericana. Se ficar, bem, nos resta a certeza de que pagamos muito caro por elas. Atocha nos cofres do estado. Os quais nós enchemos ao pagar imposto. Atocha no nosso bolso. Sem falar, é claro, na máfia da venda de ingressos para assistir aos jogos. A abertura então, nem se fala. Atocha no bolso ou se Atoche na geralzona mesmo.

Enfim...melhor do que isso, só um Funk com o trocadilho, nos mandando Atochar A Tocha.
''A Tocha, atocha! A Tocha, atocha!''
''To ficando atochadinho, to ficando atochadinho...''
Post Script: Hoje, sábado, 14/07, resolvi procurar alguma coisa na internet sobre o vexame de Lula na abertura do Pan, ontem. Até agora nada. A imprensa parece abafar. Mas, vejam só que feliz coincidência. Achei, no site da Carta Capital, a edição de número 432 traz na capa reportagem cujo título é: 'Pan, que desperdício'. A reportagem fala justamente do que eu coloquei no texto acima. Tudo pro Pan, nada pro Rio. Não sou mesmo o único a ter essa impressão (que pelo visto virou expressão). Abaixo o link pros interessados e capa da revista:
"Os Jogos custarão dez vezes mais que o previsto.
E nada sobrará para melhorar a infra-estrutura do Rio".

quarta-feira, 11 de julho de 2007

In The Meantime

Entrementes...

- A minha mudança não chegou;
- "Nosefather" ainda não me pagou o rack que adquiriu da minha pessoa;
- "The Compressed" finalmente avisou a Michelle que o Waru existia e que o nome era em homenagem ao seu doce gesto de me apresentar a Warumpi Band;
- "Scissor's Maniac" anda sumida;
- Mar Flo casou-se no sábado passado com Lu. Felicidades ao casal;
- Dudu continua sendo um ótimo amigo quando presente, porém um péssimo quando ausente, visto que é o maior de todos os tratantes e fura 9 a cada dez compromissos;
- No RS faz 6 graus e no RJ faz 25, de maneira que não consigo convencer a Caren a trazer biquínis;

- Voltei a correr (caminhar...) na praia e fazer exercícios regularmente (dia sim, semana não, dia sim, semana não...);
- Fernandinha Tolerância Zero (F.T.P. daqui pra frente) passeia pela Europa em clima de lua-de-mel;
- Renan Calheiros está a cada dia mais perto de chamar todo o Brasil prum rodízio de pizzas;
- Lula liberou a verba que faltava pra marinha construir um submarino nuclear e deu um empurraozinho para Angra 3 sair;
- Faltam 2 dias pro inicio do Pan no Rio;
- Estudo do Banco Mundial (Bird) afirma que o nível de corrupção no Brasil é o maior em dez anos. (E a popularidade de Lula sobe, impressionante...);
- O Brasil foi pra final da Copa América, depois de amargar num joguinho contra o Uruguai, decidido nos penaltis;

- E eu? bem, eu continuo me sentindo um oxiurus. E também sigo com dores nas costas por conta dessa maldita cadeira Luiz XV.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Velho Novo Mundo

Pra algumas pessoas é absolutamente impensável. Pra outras, é até possível. Há quem, no entanto, encare como um alívio. Pra mim não é nada disso. É só mais um passo. Voltar pra casa de papai e mamãe (no meu caso, só mamãe) após ter vivido anos sozinho. E longe.

Num dia você tem apartamento, carro, dinheiro e independência. No outro você tem somente o seu bom e velho quarto. Antes você chegava tarde e não tinha ninguém pra reclamar que você faz barulho de madrugada. Porém, saía cedo e não tinha ninguém pra te desejar bom dia. Ninguém em casa preocupado por que você tava na rua, não avisou que voltava tarde e ainda não ligou. Mas também ninguém pra incomodar naquela hora inconveniente. Enfim, ônus e bônus. Assim é a vida.

E o que sobra? O bom e velho quarto. Tenho uma relação muito estreita com esse cômodo. Afinal, acho que vivi aqui uns 20 anos da minha vida. Quase 2/3 de toda ela. Ele não mudou muito desde a adolescência pra cá. O armário sempre foi o mesmo. Reformado e alterado, mas o mesmo. Engraçado como gosto dele. Ocupa toda uma parede, e, depois da reformo, ganhou portas de fórmica preta e acabamento em madeira clara. Puxadores elegantes e pretos também. Vocês podem não gostar do pretume, mas eu gosto. É elegante. Quase minimalista. Na mesma reforma mandamos fazer uma cama também preta com acabamento em madeira. É de solteiro, infelizmente. Aliás, um dos maiores desafios é me acostumar novamente a uma caminha estreita. Mas é boa, muito boa. Acima dela duas prateleiras reforçadas. Criadas a base de Toddy. Imaginem a cor? Isso, pretas. Com acabamento em madeira clara. Elas tinham que ser fortes pois sobre elas repousavam, além do aparelho de som e 4 caixas acústicas, uma grande coleção de CDs. Hoje estão vazias. Só o velho aparelho carrossel que já não funciona. Estou aguardando chegar a mudança – que, pasmem, ainda não veio – pra dar um fim nele. Ainda nesta parede fica um xodó. Um surrado quadro de cortiça. Desses que todo adolescente já teve no quarto. Repleto de fotos. Fotos antigas. Da época em que ainda se mandava revelar. Logo, estão todas amareladas, ou num tom puxado pro sépia. Efeito do tempo. Seguindo, vem a parede que tem o janelão. Está toda coberta por persianas brancas, bem ao estilo escritório. Só no canto direito, que escapa à persiana, descansa um pôster meu ainda bebe. Rechonchudo, cabelos de anjinho, castanho avermelhados. A mesma carinha, diz minha mãe. Abaixo da janela, a escrivaninha. É onde estou sentado agora. De frente pra janela, laptop aberto, janela fechada. A ultima parede é onde fica um móvel grande, comprido, cujo nome não sei. A cor também é preta. E NÃO, o meu quarto não tem ar fúnebre. É muito elegante. Nesse móvel tem mais um computador, toda a parafernália que se liga a ele como impressora, scanner, etc. Além de muitos livros. Essa parede é toda coberta por uma bandeia do Brasil enorme. Enorme. Minha homenagem à pátria. No canto há uma televisão presa num negócio muito famoso nos anos 80. O tal de girovisão. É uma forma de ganhar espaço aonde não se tem. Prende-se a TV no alto, na parede, feito um xaxim de planta. No chão, dois tapetes complementam este ambiente mágico que por tantos anos foi, e agora volta a ser, o meu mundo. Os tapetes tem a função de não deixar a cadeira do computador e a da escrivaninha arranharem o chão, mas, curiosamente, eles nunca estão corretamente debaixo delas.

Enfim, este é o meu Velho Novo Mundo. Aqui já me tranquei pra desenhar, estudar, pra ouvir musica alta, pra falar de madrugada com namorada, pra ver filme de sacanagem, pra chorar e pra rir. Eu e esses móveis. Esses badulaques. Sei a origem de cada marca no chão, cada arranhão, cada risco, cada detalhe. Fui eu quem os fez. Neste quarto está assim, eternizada no tempo, a minha vida. Impressa nestas marcas que só eu entendo. Uma linha do tempo invisível. E agora, como se não houvesse escapatória, é pra cá que eu volto. Teria sido um plano calculado pelos objetos que eu havia deixado para trás? Por estes móveis que por tantos anos usei? Por esta cama em que eu dormia?

Muitos de vocês já devem ter lido um excelente livro de Carlos Heitor Cony. ‘Quase Memória’. Nele Cony tem um reencontro com seu pai. Através de um misterioso pacote recebido por ele, sem remetente, Cony reconhece inúmeros signos que o levam a crer que o pacote havia sido feito, embrulhado, escrito e remetido pelo seu próprio pai, já falecido. Mas como podia? É um exercício de memória do escritor. Ele encontra traços de seu pai em casa dobra do pacote, cada letra escrita à caneta tinteiro, cada borrão, o barbante, o peso do embrulho e a cor do papel pardo. E assim, cada signo remetendo a uma memória de seu falecido pai, o escritor tem um lindo reencontro com suas próprias memórias da época de garoto. Um reencontro com seu passado. O paralelismo é tátil. Posso sentir as memórias saltando. Ao deslizar os dedos sobre estas paredes, ao levantar e abaixar a persiana, ao abrir uma porta do armário, uma recordação me vem à cabeça quase que imediatamente. Diferentemente de Cony, estou reencontrando a mim mesmo. Minha história, que por pouco mais de um par de anos aqui ficou adormecida. Aguardando e conspirando o meu retorno.

É bom estar de volta. Muito bom.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Coceira Criativa

Num post anterior nos chamei de oxiurus.
Hoje venho amenizar um pouco. Somos vermes, oxiurus sim, mas bastante criativos.
Vejam essa aí:
Uma bela coceirinha neles, hein?
Cheers!

Mãos Dadas

Para todos os meus amigos. De hoje e de ontem. De lá e de cá.

Mãos Dadas

(Carlos Drummond de Andrade)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Oxiurus. É isto que somos.

Oxiurus. É isto que nós, brasileiros, somos. Vermes. Oxiurus, aqueles bichinhos que fazem coceira no .

É assim mesmo, nu e cru que vou redigir este post. To falando "" merrrmo. Estava lendo aqui e acolá uns sites de noticiário enquanto vejo o jogo do Brasil X Equador. Abacei por me revoltar. Aliás, sempre que leio muito sobre as atualidades desse nosso país eu me revolto.

Que povo é este? Aliás, que país é este? (Já perguntava o Renato Russo). Leiam as próximas linhas e vejam se vocês também não se revoltam:

CPI dos Correios, Mensalao, dinheiro na cueca, Delúbio Soares, Lula reeleito (depois disso tudo), menino Joao Hélio feito em pasta por marginais no Rio, dois policiais fuzilados no mesmo lugar do calvário do João Hélio, Operação Hurricane (com direito a prisão de juiz, desembargador e o escambáu), Operaçao Aquarela, escândalo do Renan Calheiros, Senado sem-vergonha que quis arquivar o assunto, escândalo do Roriz* (que renunciou, safado, pois tinha culpa no cartório), irmão lobista de Lula é 'peixe pequeno', obras do Pan atrasadas e superfaturadas, caos aéreo já dura seis meses, ministra do turismo nos manda 'relaxar e gozar', adolescentes espancam doméstica no Rio e justificam que bateram por que acharam que era uma puta, enfim... puta? PUTA QUE O PARIU! Que país é este?? Que povo somos nós!?

Pois eu respondo: somos oxiurus. Causamos coceirinha no Rabo do Brasil. No máximo, uma coceirinha. E ele ta cagaaaaaaaaaaaaando pra nós. Aceitamos este ciclo de escândalos, de absurdos, como nossa realidade. A postura é "ah, no Brasil é assim mesmo''. Parece que este é e sempre foi (e sempre será) o nosso triste Status Quo. Ante a um desses episódios o povo se levanta, se revolta, se insurge... tudo somente até o próximo escândalo. Aparece na capa da Veja, nas manchetes dos jornais, aparece no Jornal da Globo (no Jornal Nacional nem aparece tanto...), todo mundo comenta sobre isso nas conversas de bar, de fila de banco, e, em questão de dias, já ta tudo normal. Tudo esquecido. Basta um bom joguinho de bola, uma bebedeira, um episódio de ''A Grande Família'' e já ta tudo bem de novo. O Brasil é assim mesmo. Ou seja, nós, brasileiros, causamos coceira no governo. Coceirinha.
Oxiurus é isso que somos.

Oxiurus.
* OBS: Pra quem não sabe, antes de senador, o Roriz foi 4 vezes governador de Brasília. Quatro. Mas o que deve ter metido a mão...

Muhamed Azmeim Al Cafá

Sigo numa tremenda cruzada para atrair a atenção dos meus parcos e tímidos leitores, que, pela minha contagem, não passam de 3. Muito bem, desenvolvi uma nova estratégia. E da boa!

É o seguinte: hoje estava eu preenchendo minha tarde entre um compromisso e outro (caminhando no Centro do Rio, como dito no post abaixo) e passei por duas livrarias. A Siciliano e a Saraiva Mega Store. Fiquei impressionado com uma constatação: em ambas, nas mesas de frente - essas na cara de quem entra na livraria - aonde ficam dispostos os best-sellers - talvez 50% dos campeões de venda eram livros cujo autor, ou cujo título, ou cuja temática era árabe! Ou, devo dizer, muçulmana.

Exemplos: "O Caçador de Pipas" (KHALED HOSSEINI); "O Livreiro de Cabul" (ASNE SEIERSTAD); "Eu Sou O Livreiro de Cabul" (SHAH MUHAMMAD RAIS); "Mulheres de Cabul" (HARRIET LOGAN); "Cabul no Inverno" (ANN JONES); "O Vulto das Torres" (LAWRENCE WRIGHT); "Neve" (ORHAN PAMUK); etc, etc, etc.

Bem, deu pra ver que Cabul ta bombando. Literalmente, hehehe!! Sadismos de lado, me parece que a cultura massificante capitalista, que transforma tudo em produto, é mesmo a grande e eterna Ordem Mundial. Vai bem ao encontro dos desejos do ser-humano, mesmo. Nascemos consumistas. O lance agora é transformar todo este (antiiiiigo) conflito no Oriente Médio em produto. Esses fenomenos literários - consumidos com avidez - refletem que há gente ganhando dinheiro pacas depois do 11/09. Parece que o conflito entre sociedades foi novamente colocado no mapa depois do fatídico atentado. Posto no mapa do consumo. A sociedade ocidental - o grande demonio - já tratou de transformar em produto até mesmo as histórias de sofrimento daquele povo briguento.

Bem, mas não era nada disso que eu queria dizer. Quero dizer que eu, como bom Marketeiro, quero mesmo é entrar nessa onda. Quem sabe se eu colocar um título meio que com cara de árabe, muçulmano, ou coisa que o valha, eu não atraio mais uns olhares incautos? Mais umas lidinhas de canto, pra ver se to contando uma ou outra história de vida em meio a bombardeios...

Ditado de Hoje...

Ditado de hoje: "Errar é humano. Colocar a culpa em outro é estratégico".

Impressionante. Caminhar pelo Centro do Rio sempre traz alguma novidade. Essa aí eu vi num adesivo que estava a venda numa banca de jornal. Bem no meio de dois cláaaaassicos: O espião apontando uma arma e o 'No Stress'.

Eta cultura popular brasileira. Não me assusta por que este país não vai pra frente.